Artigo: Jovem, aos 60 anos!
17 de abril de 2013
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O Brasil precisa de engenheiros, mas os forma em quantidade insuficiente, quase irrisória: são 45 mil novos profissionais, por ano. O México (para fazer uma comparação com outro país da América Latina), com 60% da população brasileira, diploma 105 mil profissionais por ano. Para enfrentar a carência de engenheiros no Brasil, a Escola de Engenharia de São Carlos precisou crescer, sem perder sua qualidade: mantendo sua excelência, saiu da Rua Nove de Julho para o campus instalado onde era o Posto Zootécnico. Sob a sombra do prédio E-1, multiplicaram-se os cursos de graduação. Surgiram as graduações de Aeronáutica, Ambiental, Civil, Computação, Elétrica – Eletrônica, Elétrica – Sistemas de Energia e Automação, Materiais, Mecatrônica e Produção.

 

Com a multiplicação dos cursos, a Engenharia São Carlos expandiu-se para o Campus II e, mesmo essa expansão mostrou-se insuficiente: mais 100 hectares estão sendo reivindicados para que a EESC-USP siga com sua vocação de fornecer profissionais engenheiros competentes para um país muito carente nessa área.

 

Além de sua competência em ensino da engenharia, há uma magia que o campus São Carlos-USP realiza desde sua fundação: seus professores, seus funcionários e seus alunos jamais abdicaram de suas obrigações de cidadania, colocando-se na vanguarda das mais variadas manifestações culturais e de defesa das liberdades democráticas. Seja pela destemida defesa dos interesses nacionais, nos terrenos da produção econômica, preservação ambiental e dos recursos naturais; seja na produção cultural nos terrenos da música, do teatro, das artes visuais, das artes plásticas; seja pela inegociável defesa da democracia, encontramos na história da Engenharia São Carlos, nas lutas do Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira, na criação (pelos jovens alunos da engenharia) de um colégio e de um curso pré-vestibular, exemplos de patriotismo e de generosidade.

 

Quando a Escola de Engenharia de São Carlos – USP chegou, São Carlos já era uma cidade rica e progressista. Certamente a EESC – USP colaborou para que o progresso e a riqueza se multiplicassem. Mas, talvez, sua maior colaboração tenha sido a de trazer todos os sotaques e matizes do Brasil (e do mundo!) para cá. Sulistas e nordestinos, caipiras e caiçaras juntaram-se aos descendentes de italianos que aqui viviam, misturaram-se aos estudantes de nossos países irmãos da América, aos vindos da África, da Ásia, da Europa, transformando São Carlos em uma cidade-síntese, em uma cidade universitária, em uma cidade universal.

 

Não por acaso, agora que a EESC – USP completa 60 anos, São Carlos é governada por um prefeito que estudou engenharia em suas salas. Muitos dos secretários de governo também são ex-alunos da Engenharia – São Carlos.

 

Em 1974, quando eu saí do litoral para fazer o curso de engenharia, escutei – em sonho – o vento da Serra do Mar, a chuva de verão, uma moça que me oferecia mariscos, um grupo de estivadores, em coro, dizerem: “Ajuda teu país a ser um lugar melhor para viver! Aproveita para viver também!”. Os anos passaram e, como disse Pablo Neruda, confesso que vivi!

 

Como aprendi a viver? Foi a Escola de Engenharia de São Carlos que me deu “régua e compasso”. É o que essa grande escola continua a fazer com os alunos que estão chegando agora. Aos 60 anos, a EESC- USP continua jovem. E se renova, sempre, como as estações do ano.

 

Ney Vilela, ex-aluno da EESC e coordenador de Artes e Cultura de São Carlos

 


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