A USP é a primeira universidade do Hemisfério Sul a incorporar o tema da economia circular
21 de março de 2017
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A Educação é o principal componente para o desenvolvimento de um país e de sua sociedade e, desta forma, afirma-se que a Educação se apresenta como uma condição sistêmica viabilizadora para alcançar a transição à economia circular. A Universidade de São Paulo (USP) como Instituição de Educação Superior de alto reconhecimento em nível nacional e internacional, tem a responsabilidade e o compromisso de ajudar nessa transição, por meio da formação dos futuros profissionais que irão liderar, administrar e ensinar a nossa sociedade.

Nesse contexto, a USP se compromete a desenvolver atividades nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Na área de ensino se objetiva incluir a temática de economia circular de acordo com as especificidades de cada curso e de cada unidade da USP. Na pesquisa, se objetiva desenvolver formas de colaboração com a sociedade em temas estratégicos de estudo e projetos em rede; e na área de extensão, desenvolver e integrar estratégias circulares aos governos, empresas e outras organizações. Avanços nesse sentido já incluem a formação de uma rede de 50 docentes de 11 unidades diferentes da USP; a inclusão dos temas de economia circular em disciplinas de graduação, pós-graduação e especialização; cursos e workshops para a academia, poder público e empresas, além de publicações de artigos científicos, parcerias internacionais e assessoria para empresas, governo e ONGs. A partir de um grupo de docentes e pesquisadores motivados, a USP pode ser a Universidade com maior diversidade de áreas de conhecimento atuando em economia circular aplicada ao ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa e extensão.

Da Sustentabilidade à Circularidade – A Jornada da Universidade de São Paulo

A USP já apresenta diversos trabalhos que vão ao encontro da economia circular, notadamente, projetos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa em Engenharia e Gestão do Ciclo de Vida de Produtos, do Departamento de Engenharia de Produção (SEP) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, liderado pelo professor Aldo Ometto. Partindo do objetivo de integrar o pensamento de ciclo de vida e os valores circulares em modelos de negócios e nos principais processos, como o planejamento estratégico, desenvolvimento de produto e gestão do ciclo de vida, outras áreas do conhecimento foram inseridas, culminando com uma Comunidade de Práticas formadas por docentes dos seguintes campos: Engenharia, Economia, Gestão, Negócios e Administração, Leis, Agricultura e Ciências Florestais, Ciências Sociais, Biologia, Física, Matemáticas e Ciências da Computação, Arquitetura e Planejamento Urbano Regional.

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A Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) tem por objetivo criar, implantar, manter e promover a sustentabilidade ambiental nos oito campi e áreas de pesquisa da USP, buscando influenciar políticas, planos e atividades da universidade, nas áreas de ensino, pesquisa e extensão por meio de ações que transformem os campi em verdadeiros laboratórios e tentando atingir emissão zero de carbono.

Um dos programas da SGA, o USP Recicla, desenvolve ações que auxiliam a diminuir a geração de resíduos sólidos, conservação do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida e formação das pessoas comprometidas com estes ideais. Dentro da linha de gestão e valorização de resíduos eletroeletrônicos, a USP apresenta iniciativas pioneiras, tais como o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), em São Paulo, e o Recicl@tesc em São Carlos, SP. O principal objetivo dessas duas iniciativas é implantar práticas de reuso, reciclagem e descarte adequado e sustentável dos Resíduos de Equipamentos Eletro-Eletrônicos (REEE). Adicionalmente, alguns dos computadores que são recuperados são reutilizados em projetos sociais de inclusão digital pela população de baixa renda. Por fim, é importante destacar que os centros oferecem cursos de capacitação para auxilio na formação pessoal.

O CEDIR foi desenvolvido em parceria com dois programas do Massachussetts Institute of Technology (MIT S-lab – Sustentabilidade e MIT L-Lab – Liderança) e recebe o descarte de REEE realizado pela unidade da cidade universitária, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na USP Leste, além do Quadrilátero de saúde e direito e da população. Até 2011 o CEDIR recebeu mais de 11 mil unidades de REEE para recuperação e destinação final adequada. Já o projeto de Reciclagem Tecnológica da Rede Social São Carlos (Recicl@tesc), criado em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e a Instituição Nosso Lar, coleta o descarte dos REEE da população de São Carlos e das cidades próximas. O projeto em 2011 obteve da VERTAS, o certificado de descarte ambiental correto de equipamento de informática e até 2014 foram remanufaturados aproximadamente 330 equipamentos. Alguns equipamentos são usados nos projetos de inclusão digital, e no seu fim de vida é realizada a logística reversa para seu retorno ao Recicl@tesc, entrando novamente por um processo de recuperação e posterior uso.

Já nos campi da USP como na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) foram lançadas, no início de 2015, as Diretrizes para os cursos de graduação em Engenharia para auxiliar os trabalhos de reforma curricular dos cursos da Escola. O trabalho foi realizado em conjunto com professores e funcionários da EESC e teve intervenções do pessoal de outras unidades do campus da USP em São Carlos, como do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), por serem responsáveis das disciplinas de formação básica, e pessoal de outras instituições que estavam passando pelo mesmo processo. É importante destacar que a EESC já contava com um caso de reforma curricular que foi realizada no Departamento de Engenharia de Produção desde 2012 e implantada no curso desde o primeiro semestre de 2014.

Em pós-graduação, o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da EESC criou uma disciplina que tem por objetivo desenvolver competências de economia circular para o desenvolvimento de projetos de engenharia e a promoção de habilidades de criação de soluções reais em um ambiente de trabalho em equipe multidisciplinar, muitas vezes internacional, a partir de casos reais em conjunto com organizações que buscam transformar seus negócios de acordo com as premissas da economia circular. Nesse sentido, os alunos da primeira turma da disciplina realizaram discussões relacionadas com economia circular e sistema produto-serviço, este último considerado um dos valores dentro da economia circular e ajudaram na análise crítica da ferramenta desenvolvida pela Fundação Ellen McArthur e a IDEO denominada “The Circular Design Guide”, que tem por objetivo ajudar empresas a iniciar com inovação circular. Como produto final da disciplina, os alunos escreveram publicações cientificas relacionando PSS e economia circular, os quais serão apresentados em um congresso internacional sobre PSS.

Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), foi criado um Plano Diretor Socioambiental que tem por finalidade unir os diversos grupos de pesquisa e extensão que trabalhavam com as questões socioambientais e poder discutir sobre essa problemática no campus. O Plano Diretor da ESALQ possui caráter participativo, no qual colaboraram professores, funcionários, pesquisadores, alunos de graduação e a comunidade. Ao todo, foram seis grupos de trabalho, incluindo uso do solo, resíduos, percepção e educação ambiental, emissão de carbono fauna e recursos hídricos. Cada grupo de trabalho desenvolveu um diagnóstico da situação atual do Campus considerando o escopo do seu tema. Esses resultados foram a base para a elaboração das diretrizes para o Plano Diretor, compostas por 28 diretrizes, que contemplam, por exemplo, a definição de critérios para expansão física da zona urbana do campus, criação de um sistema de gestão compartilhada e integrada de resíduos, incentivar a geração e utilização de formas de energia e combustíveis alternativos. Atualmente essas diretrizes estão ajudando o campus a resolver seus problemas socioambientais e são o ponto de partida para incluir a economia circular no campus.

Entre as iniciativas para diminuir as emissões de carbono, o tema de edificações sustentáveis, inserido dentro da política ambiental da USP, apresenta objetivos, diretrizes e metas estabelecidas nas fases de projeto, construção, manutenção, uso e operação, para reduzir o uso de energia nas edificações novas e existentes da Universidade. Desta forma, para os próximos anos as metas estão direcionadas à implantação de programas de treinamento e educação para equipes de manutenção e usuários em temas relacionados com o aproveitamento de iluminação e ventilação natural nas edificações. Já em curto e médio prazo, as metas serão direcionadas à elaboração de uma certificação de desempenho ambiental, formulação de indicadores que avaliem o desempenho térmico, luminoso, acústico e energético e a requalificação das edificações.

Em termos de pesquisas, várias Unidades da USP abordam os temas da economia circular, desde os aspectos físicos e tecnológicos até os de modelos de negócios e socioambientais em áreas multidisciplinares.

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Como observado, a USP apresenta um alto compromisso nessa iniciativa, o qual pode ser constatado nas diversas ações que vão ao encontro da economia circular. Seguindo nessa perspectiva, para os próximos anos a USP concentrará seus esforços no desenvolvimento de novas estratégias que permitam integrar totalmente a economia circular nos planos de ensino, pesquisa e extensão. Espera-se que os resultados tenham benefícios diretos para Brasil e possam ser usados como apoio para a inserção da economia circular nos outros países que conformam o Hemisfério Sul.

informação

Professor Aldo Roberto Ometto E-mail: aometto@sc.usp.br

Por Professor Aldo Roberto Ometto para Circulate

Imagem: Keite Marques e USP Imagens


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